A palavra “assustadora” descreve bem como foi a Bicicletada
de março. Embora não seja a palavra mais adequada, é a primeira que me vêm à cabeça.
Fugiu do comum chegar à praça do Teatro Dix-huit Rosado e já de cara encontrar
em torno de 40 ciclistas. Graicy havia trazido um pacote com 50 balões de
encher. Não deu para o começo, logo acabou e percebemos que mais pessoas
estavam chegando. Pouco antes da saída do teatro, a quantidade de pessoas
duplicou e acredito termos chegado pela primeira vez na marca de 3 dígitos. Não
pude contabilizar, mas muitos presentes confirmam que passamos dos 100
ciclistas. Então, como de praxe batemos um papo antes de sair, dialogando sobre
as motivações da Bicicletada e traçando táticas para seguir nossa
ciclopasseata.
Após esse furor inicial, empolgação por saber que mais
pessoas apoiam a Bicicletada, por acreditar que mais pessoas também querem uma
cidade com menos carros e mais pessoas querem outro modelo de cidade. Após o
torpor causado pela empolgação, mergulhamos à realidade. Quando éramos apenas
10, facilmente conseguíamos manter o grupo organizado, homogêneo e de fato uma
massa crítica.
O fato de existirem novos adeptos, não justifica à nossa
desorganização. Como foi visto muitas pessoas que ali estavam pela primeira vez
seguindo à risca o que pré-estabelecemos em reunião, na concentração. Entre
empinadas na contra mão e cortadas de sinal vermelho com metros de bexiga,
vimos nossa Bicicletada dar mal exemplo. Durante todos os dias do ano, qualquer
um têm o liberdade para correr em sua bicicleta a velocidade que bem entender,
ou fazer passeio para a trilha que preferir, porém a Bicicletada não é uma
competição. A Bicicletada é antes de tudo, uma organização política. Além de
toda a descontração, além de um espaço democrático para a prática de exercício,
existe um objetivo inerente à Massa Crítica de educar à cidade. E esse processo
de educação visa atingir desde o motorista até o pedestre, passando pelo
ciclista e todos os outros elementos que compõem o nosso trânsito. Estamos
falando de mobilidade urbana e de uma cidade com mais espaços vivos. Um modelo
melhor para a nossa urbe.
Após receber broncas de ciclistas mais experientes dentro do
grupo, fiquei encarregado de puxar mais uma reunião na metade do trajeto, onde
tivemos um papo de conciliação, por assim dizer, onde repassamos as nossas
regras de conduta. Apontamos os nossos erros e após isso seguimos pela Avenida
João da Escóssia. Dali em diante o passeio não foi o mesmo. Conseguimos manter
o grupo menos disperso e mais pessoas ajudaram a cantar nossas canções
cicloeducativas.
Lindo foi o coro que conseguimos fazer de frente à UNP. Um
início de noite de convite às ruas, centenas de pessoas ouvindo o chamado ”DEIXE
O CARRO EM CASA E VENHA PEDALAR”. Nos semáforos o nosso “QUEM GOSTA DE BIKE
BUZINA” funcionou na maioria das vezes e gerou uma relação de cumplicidade
entre nós e os motorizados.
No restante do percurso muitos integrantes do grupo chegaram
a mim dialogando sobre o quanto acham positivo estar fomentando esse tipo de
manifestação e o quanto era prazeroso ali estar, participando de um momento tão
nobre em nome da bicicleta.
A bicicleta não só como objeto de ostentação. A bicicleta
como um meio de transporte que não polui, como um transporte saudável e anti-caos
urbano, anti-congestionamento.
Podemos continuar sendo 100 ou até ser 1.000 de maneira
organizada, basta que todos entendam o sentimento por trás de tudo. Que a
Bicicletada seja a nossa celebração mensal, onde todos os grupos de ciclistas (Pedal
Mossoró, Ciclismo Mossoró, Trilheiros Mossoró, Os Sem Grupo Mossoró) possam
manifestar o seu desejo à cada dia mais pulsante de ter uma dinâmica urbana
mais apropriada para o uso de nossos pedais.
Tenha você carro ou não, tenha você uma Specialized ou uma
Monark Barra Circular, você necessite da bicicleta para a sua mobilidade
diária, ou use apenas como uma prática esportiva, você está nas ruas
cotidianamente. Todos estão passíveis a uma machadada do Thor. Que possamos
unir nossos gritos em nome de uma “ciclomossoró” melhor.
A Bicicletada é minha, é sua, é de todo mundo. A Bicicletada
não é de ninguém. E que o bom exemplo comece por cada um de nós!
Um Carro a Menos!
Bicicletada Mossoró